28 de fevereiro de 2011

A solidão


Na rua silenciosa ouvem-se pesados passos a percorrer o vazio.
 Ia com pressa, sentia-se no ar um odor capaz de sufocar qualquer um, lá ia ele, de regresso a casa.
 Sentia a sua esposa chama-lo, sentia isso no seu coração.
Abriu a porta de entrada, uma imensa escuridão cegou-o e sente um abraço profundo que o envolve num tenebroso pensamento, era a sua esposa.
Cega, surda e muda. A sua pela fria enregelava-o até ao seu ínfimo.
Não era bonita, não era feia, amava-o.
 Ele? Ele não conhecia outra para além da sua esposa, amava-a também, secretamente sonhava ser feliz, não o era!
Dessa relação nascera uma coisa. Uma coisa desmamada, suja e abominável, o seu pai desejava poder desfazer-se daquilo, só era amado pela sua mãe.
Aquela casa, era o ideal de um esterco, imunda, não entrava luz pelas janelas, tinham sido tapadas.
Naquele dia, o homem apenas desejava livrar-se dos tormentos que o assolavam. Pega numa arma e dispara contra a sua esposa, nada acontece, continua lá, sentada a sorrir para o homem, nem pinga de dor, continuando a acariciar a sua criação suavemente.
O homem desesperado, encosta a arma à cabeça com o dedo no gatilho...
 O eco da bala ouve-se por toda a escuridão, um riso maléfico surge, abafando o som do tiro.

A solidão fez mais uma vítima, exclamou alguém.


24/01/2009

21 de fevereiro de 2011

Ensaio sobre a felicidade !


Apetece-me escrever sobre felicidade, não sobre a sua semântica original mas sim sobre o que ela representa, o todo objectivo de felicidade. É difícil, seria bem mais fácil ter um apetite para descrever um sorriso, uma paisagem… Mas não teve que ser a felicidade, que tal como o amor são difíceis de descrever, penso mesmo que todas as frases usadas, dariam para escrever um livro enorme e, que mesmo assim não seria suficiente, ou melhor, não seria aceite por todos!
A felicidade é tão subjectiva como a perfeição.
Se perguntarmos a um sudanês o que é a felicidade, possivelmente responder-nos-ia água, capaz de acabar com toda a pobreza que está associada à sua escassez!
A um tibetano talvez respondesse uma separação da China, que pusesse fim ao genocídio cultural que tanto sofrem.
Já a um ocidental seria dinheiro, sucesso no trabalho, saúde, ou então, algo que acho ainda mais complicado de descrever, felicidade no amor!
Enfim, não é isto que quero, não quero descrever o que é a felicidade para os outros, sinceramente nem o que é para mim, sendo esse um assunto tão delicado e íntimo.
Quero descreve-la apenas como o acto em si, ou pelo menos em como a obter.
Na minha concepção ela é inatingível, pelo menos no momento que a queremos ou que mais dela precisamos. A felicidade é senhora de si mesma, não recebe ordens é impulsiva e imprevisível.
No mínimo poderemos compara-la, a questão persiste, compara-la com o quê? Ao Homem? A água? A liberdade? Não.
Dou voltas e voltas à minha cabeça, tentando compara-la com algo físico, visível aos olhos do Homem, à nossa visão limitada do mundo. Acabo por chegar à coisa que melhor é capaz de a descrever, ou melhor, que mais se assemelha aquilo que ela é, as suas propriedades, se é que ela as tem, enfim.
A borboleta! Este frágil animal é tão parecido com a natureza da felicidade, também esta é frágil, é viva e garrida. A borboleta é o símbolo da felicidade e se pensarmos bem nesse pequeno animal e a relação de interacção que com ela temos, reparamos que se é tal qual como a que temos com a felicidade. A borboleta é selvagem e indomável, tentamos apanha-la em vão, conseguindo-nos sempre escapar, até que, quando mal esperamos pousa-nos no ombro e nos dá a oportunidade de a contemplarmos! E como ela é bela!
A felicidade é mesmo isso, é inalcançável quando a queremos agarrar, vindo ela ter connosco se assim o desejar. Tal como a borboleta se por sorte a conseguirmos capturar, perde a sua vivacidade, cor e beleza, acabando por morrer. A felicidade é uma borboleta sem dúvida, que ser mais fantástico se atreve a ser tão semelhante como este frágil insecto?
Não consigo descrever a felicidade na sua essência, posso agora, pelo menos, dormir sem que esta vontade me assole mais o pensamento, consegui encontrar parte da sua essência, da sua representação na terra, a soberba borboleta…

16 de fevereiro de 2011

O dia em que decidimos não sair da cama !


Acordo com a chuva a bater no telhado, atrapalhadamente agarro o telemóvel e vejo as horas, seis horas da manhã, faltam duas horas para acordar, adormeço.
“Bolas!”, acordo de novo com o toque irritante do despertador que todos os dias por esta hora penso em mudar mas que acabo sempre por esquecer.
 Não quero sair da cama, penso, está a chover vou molhar-me, eu mereço ficar na cama!
Todos nós merecemos ficar um dia na cama, sozinhos, agarrados à almofada. O dia hoje é meu e da minha cama, num acto de irresponsabilidade hoje vou esquecer as minhas obrigações e não saio daqui, não saio e ponto final!
Aí maldita Consciência. Maldita que és, sentas-te junto a cama a olhar me com cara de reprovação.
“Deixa-me em paz! Hoje o dia é meu…”, a parva continua a olhar, abana a cabeça em sinal de desilusão, “vai à merda”, e viro-lhe costas.
Chegou agora a Irresponsabilidade, sempre muito bem vestida, mesmo muito sexy e apetecível, como está bonita hoje! Puxa os lençóis e instala-se na cama, senhora e rainha dela.
Volto a olhar para a Consciência, desta vez estava a mexer-me nos livros, provocando-me, num acto de picardia, agarro também no livro que tenho na mesinha de cabeceira, mostro-lho, “vês minha parva, vou lê-lo daqui a pouco!”. A Irresponsabilidade ri-se, a torçar de mim, “vou mesmo, deixem-me em paz!”.
Hoje não vou sair da cama, já disse, não vão ser estas duas coisas, fruto da minha imaginação que me vão forçar a sair, já agora!
Viro-me, volto a virar-me, aquelas estúpidas tiraram-me o sono, mas mesmo assim não desisto, não saio daqui!
Acendo a luz do pequeno candeeiro, reparo como ele é triste, nem abajur tem, que infeliz que é! Agarro no livro e começo a ler, página após página absorvo aquela história, como se eu fosse a personagem daquela narração, sou interrompido pelo estômago, “o que queres também tu?”, faz aqueles barulhos irritantes, queixando-se da fome que tem, “vais fazer-me sair da cama!”, levanto-me resmungando e vou até à cozinha, faço um chá e pego numas bolachas de água e sal, volto a correr para a cama, mas desta vez com cuidado, não quero que a pele refile comigo por se ter queimado, como e bebo. Regresso à leitura, “porra!”, sou de novo interrompido, o telefone a berrar, “devem querer saber onde estou, curiosos!”, não atendo, ninguém tem nada que saber dos meus ataques de irresponsabilidade, desligo-o!
Estou desconcentrado, a leitura seria inútil, Dostoievski não merece tal falta de consideração, ligo a televisão. Tragédias, apresentadoras de televisão a chorarem que nem Madalenas, outras a fazerem do estúdio um circo, eu quero qualidade! Afinal fiquei na cama não por preguiça, mas sim pela minha pseudo-vontade de absorver cultura!
Conjecturo as várias hipóteses para justificar a minha falta de, digamos, vontade de sair da cama, que seja facilmente compreendida pelos outros, para mim é mais que obvia!
A Consciência volta, põem-se à frente da televisão, “o que queres?”, rende-se e deita-se na cama mais a Irresponsabilidade que aparece do nada.
 Que visão maravilhosa, os três na cama a desfrutar a beleza de não fazer nada, ou o Dolce Far Niente, como dizem os nossos amigos italianos.
 “Vêem como é bom?”, respondem com um sorriso.
Afinal, foi o dia em que decidimos não sair da cama!

12 de fevereiro de 2011

Trabalho vs factor cunha !


Numa conversa que um dia tive com um professor, eu explicava-lhe que gostava muito de determinado curso, mas que não o iria seguir, já que os índices de desemprego eram muito elevados! Eles responde-me “João há sempre emprego em todas as áreas, há é que trabalhar muito para ser o melhor, aí conseguirás!”.
Ontem tive uma conversa que me deixou a pensar, até que ponto isso é mesmo verdade? Não será, infelizmente, o factor cunha mais importante que qualquer talento? Rapidamente cheguei à conclusão que não, o meu professor está mais que certo, com muito trabalho e esforço tudo se consegue, por exemplo, se formos o melhor aluno do nosso curso, não estará nenhuma empresa interessada em nós? Somos uma mais-valia. Obviamente que este critério não se pudera aplicar em todos os cursos, reparemos que muitos deles valorizam mais a teoria que a prática e na verdade é bem mais fácil alguém ser bom na teoria do que na prática.
Mesmo  assim acredito que tudo se consegue com trabalho, esforço e dedicação, o que nos poderá definir e garantir emprego é nada mais nada menos que o trabalho que fizemos e consequentemente a classificação da média do curso.