28 de fevereiro de 2011

A solidão


Na rua silenciosa ouvem-se pesados passos a percorrer o vazio.
 Ia com pressa, sentia-se no ar um odor capaz de sufocar qualquer um, lá ia ele, de regresso a casa.
 Sentia a sua esposa chama-lo, sentia isso no seu coração.
Abriu a porta de entrada, uma imensa escuridão cegou-o e sente um abraço profundo que o envolve num tenebroso pensamento, era a sua esposa.
Cega, surda e muda. A sua pela fria enregelava-o até ao seu ínfimo.
Não era bonita, não era feia, amava-o.
 Ele? Ele não conhecia outra para além da sua esposa, amava-a também, secretamente sonhava ser feliz, não o era!
Dessa relação nascera uma coisa. Uma coisa desmamada, suja e abominável, o seu pai desejava poder desfazer-se daquilo, só era amado pela sua mãe.
Aquela casa, era o ideal de um esterco, imunda, não entrava luz pelas janelas, tinham sido tapadas.
Naquele dia, o homem apenas desejava livrar-se dos tormentos que o assolavam. Pega numa arma e dispara contra a sua esposa, nada acontece, continua lá, sentada a sorrir para o homem, nem pinga de dor, continuando a acariciar a sua criação suavemente.
O homem desesperado, encosta a arma à cabeça com o dedo no gatilho...
 O eco da bala ouve-se por toda a escuridão, um riso maléfico surge, abafando o som do tiro.

A solidão fez mais uma vítima, exclamou alguém.


24/01/2009