29 de março de 2011

A perfeição

Nunca me apaziguarei,
com o frívolo, com o enxuto,
com o medíocre, com o vácuo,
Com o infrutífero, com o insensível.
Não serei apropriado, jamais!
Não penetrará, não conceberá.
Só o sublime, só o digno,
só a preeminência vivificante,
Essa que cria sapiência.
Será incumbência da existência,
a indagação pelo elevado,
pela perfeição!

23 de março de 2011

A minha fama da tua boca sairá

Talvez se me debruçasse sobre o íntimo,
sobre o quotidiano, como se de um diário fosse.
Se me especificasse ao irmanar nomes, idades, sexos…
Talvez aí contivesse a tua meditação,
excitando e aguçando a bisbilhotice, da qual escravo és!
 Aí me dissecarias, tentando enxergar a minha existência
que atenua a tua.
Tentarias por certo encerrar-me na tua mediocridade,
na tua trivialidade, tornando-me o cerne dos colóquios.
Imenso desassossego em que vives,
querendo saber tanto sobre o teu semelhante,
sendo intrínseco, sendo mais forte, que tu, fracassado!
Assemelha-se a uma pavorosa preocupação pela vida alheia,
como se da tua se tratasse, mentira!
Não será preocupação, nem benevolência por vero,
não passará do gosto que essa língua,
afiada, têm pelo escarnecimento.
No entanto confino-me a rememorar-te:
A minha fama da tua boca sairá!

22 de março de 2011

Primavera

Ah! A Primavera que bonita e delicada és!
Coberta de harmonia e esperança.
Usas o verde, vaidosa da tua opulência
e da genica que nos dás, para recrudescer,
tal como a ave-do-paraíso.
Essa tua postura é tão encantadora.
Sentir-te… Espiar-te… Colher-te…
Essa essência das tuas filhas coloridas,
a tua aura amena que embala o rosto!
Até mesmo a coceira que dás,
no nariz dos mais sentidos!
Que mágica és, tão merecedora de ti!
Singeleza celsa, és a constância.
Tão pura que és, querida Primavera!

20 de março de 2011

O ardor

Esse ardor, que forte está!
Arde, derrete-nos a carne,
no suor, funde-nos.
Qualquer um o contempla,
aprazem a carência de o observar,
naquele palco vivo.
Escarnecem, necessitados!
É ciúme de não actuarem,
como nós…
Como os nossos corpos embebidos,
somos um só, agora!
Ah! Agarra-me, morde-me!
Eles riem, se soubessem!
Se soubessem como é sadio!

15 de março de 2011

O gozo que me dás


Esse prazer que me dás enquanto me tocas,
quando me agarras e me abusas o corpo,
quando sinto os teus lábios em inflamação, nos meus. Que deleite!
Que gozo me dás, sentir-te, sentir-nos moldados um no outro,
um ardor que nos faz inflamar de prazer, atenuado pela sudação
que os nossos corpos em brasa soltam…
A satisfação da demência de te agarrar, de me sentir em ti para a imortalidade.
Esse amor, esse gozo que muitos chamam de depravação é a paixão incandescente,
que nos consome, enquanto nos consumimos.
Ai! Como é sádico, o gozo que o teu corpo me dá, esse corpo que me pertence!
No fim tudo acabará, com o maior gozo de todos…
Humm… Amo-te!
A chama amansou, jamais se dissolverá.
Os nossos corpos fixos, subjugados ao maior prazer, assim continuarão,
até novo desejo por essa deleitação nos voltar a consolar o espírito.
Limpando-nos as vísceras e a alma.

12 de março de 2011

E se a fonte secar ?

E se a fonte secar?
Essa, que me rega a alma!
Se secar, secará,
cavarás outra, quiçá?
Outra? Jamais!
Não secará e não me findará!
Haverá outra!
Não! Não a pretenderei…
Definharás!
Bem o sei, praga!
Aí te enfadarei!
Não secará, te prenuncio.
Privar-te-ei dela…
Não o obterás e não secará!
E se secar?
Secará minha alma conjuntamente.
Morrerás?
Assim o conseguirás!
Do pó vieste ao pó voltarás!

11 de março de 2011

Futilidade humana


Que horror esse!
Sustentar as nossas vísceras com outras!
Manchar as mãos com sangue!
Ensombrar a alma com o martírio.
Que horror esse!
Degolar quem nós adora!
Jantar quem criamos!
Pelo prazer? Pelo gosto?
Louvada seja,
a futilidade humana!

10 de março de 2011

Dissertação sobre o passado


Na expectativa de encetar uma exposição consigo e consolando a minha anseia de ortografar, exponho-lhe uma citação de S. João deixada para a posteridade no seu evangelho.
 Empreenda: na verdade, na verdade vos digo que se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto.
Na exactidão vos digo que excessivas acepções terá tal frase, desafio-o mesmo a tomar diligência própria e dissertar sobre as tamanhas possibilidade que tal frase lhe profere a si.
Todavia peço-lhe absolvição pelo instante de tremendo egoísmo ao principiar a minha conveniente descrição, dando-lhe o meu pensar sobre a figura supramencionada…
Assim como o grão de trigo que ao cair do seio da sua confortável progenitora poderá cessar originado fruto e caso não morra ficará só, por si só um grão de trigo, descontinuando um encadeamento de factos congénitos que deveriam advir, também o pretérito que não morre, não deixará de todo viver, não criará fruto e impedirá um ordinário desenrolar do presente que será constantemente obscurecido por esse mesmo energúmeno que não morre, não cria frutos e nem deixará viver o seu fecundante!
Repare que o passado enquanto se mantém vivo na sua lembrança é nada mais que um estorvo, adulterando o seu presente e comprometendo o seu destino, não haverá pior infortúnio que um passando ainda vivo, nem que se encontre num estado vegetante.
Mesmo assim causar-lhe-á, no ínfimo, alguma apoquentação, como uma coceira no braço que inevitavelmente terá que cessar, ocorre no preciso momento em que o filme que confortavelmente está vendo entra na fase do clímax, distraindo-o e aborrecendo-o por ter perdido tal acção, fazendo com que tenha de pedir ao seu parceiro que lhe explique o que sucedera no dito filme.
Um passado que perdura não passará de um amontoamento de poeira que se cumula no canto mais alto do móvel que possui na sala, aquele tipo de poeira que ninguém conseguirá ver a não ser o leitor.
Deixemo-nos de meras comparações, um passado inconclusivo impedir-me-á e impedir-lhe-á de gozar o presente e o futuro que mereço e merece! Por mais pavoroso, ou mais primoroso, que tenha sido não terá o direito de o coibir de desfrutar seja do que for.
Assentirá comigo que nem perpetuamente será fácil mata-lo de feição a criar frutos, esperemos que esses mesmos brotos não sejam uma má colheita, enfim. De qualquer modo o passado como já disse, essa coisa incomodativa que nos aterra dia e noite, que por vezes nem nos nossos sonhos nos dá o merecido ócio, terá indispensavelmente que ser liquidado, a prisão não é satisfatória, não se esqueça que se o fizer acabará por ser o recluso do seu prisioneiro.

Após o homicídio ter alcançado êxito, enxergue que este é o único que não é merecedor de um correctivo, antes pelo inverso, será mesmo merecedor de um enaltecimento, podendo encher-se de brio sem qualquer arrependimento, passará agora pelo período de germinação.
Quanto a si, não deverá passar pelo luto como diria o menos atento, esse fora já feito enquanto o dito ainda permanecia em vida, acabando mesmo o leitor por fazer pesar da sua própria vida.
Agora, com toda a autenticidade, perguntar-me-á que frutos são esses? Que coisas tal coisa terá a competência de gerar que nos serão proveitosas, descomprometendo-nos o futuro que em tempo fora comprometido pelo passado que já se encontra decesso? O curioso da questão, ou questões como optar, é que identicamente até então não saberia o que lhe retorquir, provavelmente rir-me-ia de tal doidice, mas, agora poderei dizer-lhe o que lhe trará, ou melhor, quais os frutos que poderá colher, já que só agora fui capaz de o fazer, de cometer o mesmo assassinato esperando que algo daí crescesse, esperando pacientemente.
 Não será uma reacção instantânea como é a da água em contacto com o azeite, é fundamental a serenidade e domínio da paciência, coisa que acabará por surgir, caso não a tenha.
Peço-lhe perdão por em parte dar alas à minha divagação, tornando quase o nosso colóquio em vejamos, um solilóquio!
Imenso disparate! Não será a minha tenção faze-lo, caso o fosse dissertaria sobre… a afeição própria, tão íntima e exclusiva que é!
 Nunca sobre o passado que sendo de igual modo íntimo é um mal comum enquanto senhorear sobre a minha, a sua e a nossa vida.
Esse mesmo falecimento dar-lhe-á uma nova vista, sem limites, tendo em conta os limites da condição humana, dar-lhe-á algo de extrema sumptuosidade que nem as mais raras pérolas conseguirão dia algum comprar, dar-lhe-á algo tão puro! Chega a parecer extravagante tão grande dissertação sobre esse mesmo fruto, dar-lhe-á lições…
Não aquelas que aprendemos nas escolas, que apenas são úteis no raciocino lógico e guiado, mas sim aquelas que nos emendam interiormente, assim como é uma relação entre um sujeito que apreende um objecto, sujeito esse que é o conhecedor e objecto que é o conhecido, só o primeiro é modificando, surtindo nele uma vastíssima transformação, arrisco-me mesmo a cair no ridículo chamando-lhe de metamorfose.
 Veja se me percebe, o passado só será útil morto, podendo geral benefícios, dar-lhe-emos o nome de lições, lições que colhemos e que deveremos apreender para assim podermos ter a segurança que esse nos foi proveitoso e que nos acautelará de nele voltar a capitular, que nos prepare para o futuro que se acerca a cada segundo, ensinando-nos qual trilho deveremos abraçar, com o fim de atingir a maior fortuna, que se bem usada acabará por agraciar os demais.
Presencie o quão despretensiosa a sua vida poderá ser se tudo no seu passado estiver carecido de vida, consentindo um término de um ciclo e ensinando-lhe a oportunidade de viver uma existência feliz com fundamento nas reminiscências que se tornaram as lições que tanto lhe tagarelei. Comprove agora, já que leu desmedida exposição sobre um caso que poderia parecer-lhe incapaz de conceber frutos, se traduziu num caso capaz de gerar a condição de erudição conveniente para lhe alumiar o caminho para a fortuna.
Peço novamente descargo pela propensão que tenho em entrar em vastas divagações, podendo de vero modo ensandece-lo, sujeitando o eficaz recebimento da concepção que tentei ao logo da exposição transmitir-lhe, sem me inquietar sobre o descomedimento que experimentei sobre o seu inestimável tempo.

9 de março de 2011

Jamais me conterei


Não me apagarás,
não me reprimirás.
Miserável!
Tu que me tentas conter a voz,
não conseguirás conter o meu entendimento.
Não me silenciarás, nunca o obterás,
por mais que o experimentes.
Esticarás primeiro, caso o arrisques.
Nunca me ocultarás,
limitar-te-ás a essa ânsia que te consome.
Não me amansarei de berrar a verdade,
que te faculta inveja.
Jamais me angustiarás!

Não consigo secar o desejo que possuo por ti


Não consigo largar o prazer que contigo tenho, meu caro.
Não o prazer libidinoso, aquele que sinto quando me tocas,
dia algum mo poderias dar, não te acuso e não o desejo.
O gozo que me dás é aquele que me mata aos poucos e primorosamente,
foi a tarefa que te outorgaram, apagar enquanto dás satisfação.
Também tu morres, cometes o suicídio ao deleitares-me com o teu prazer,
mas tens idênticos, que consolarão o desejo, não chegando sequer,
a sofrer a falta que tu, que não és exclusivo, me fazes.
Estimava largar esse vício de ti, o vício de te sentir nos lábios,
apenas como tu e os teus comparáveis sabem fazer.
Não é um beijo, essa realidade intensa e repleta de afecção,
não se encaixa neste prazer, o beijo não mata, mas de igual forma vicia.
O que sinto enquanto me atestas é desacertado, é suicídio, mas requintado,
altamente depravado e chocante.
É o prazer que se compra, que se acha, que se furta, que se pedincha,
é o prazer de bolso, que me encarde as vísceras, até me curar ou definhar…
Não consigo abandonar o vício de ti, meu apreciado, que tão dificilmente,
 mas realizável seria de soltar.
Prazer que tem tamanha mão sobre mim, que me entrava de o repudiar.
Não consigo secar o desejo que possuo por ti.